História

VÍDEO: “Investimos em mobilidade elétrica desde quando não havia financiamentos e nenhum incentivo”, diz Maria Beatriz Setti Braga 3s5z4k

Empresária relembra as dificuldades da época em que quando alguém falava de eletromobilidade no Brasil, ninguém acreditava

ADAMO BAZANI

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Hoje falar em veículos elétricos é muito fácil. Mas houve uma época que era quase considerado uma “loucura”.

Apesar de ainda existirem grandes entraves, como altos custos de aquisição, falta de infraestrutura adequada de carregamento e distribuição de energia para grandes frotas e, ainda, a autonomia das baterias impedir que os veículos elétricos sejam empregados em trajetos de média ou longa distância, está se tornando cada vez mais comum ver nas ruas do Brasil, ônibus, caminhões e carros movidos a eletricidade.

Já há linhas de financiamento, inclusive com o Governo Federal criando modalidades com juros menores e mais tempo de carência e, até mesmo, incluindo os ônibus movidos com baterias em ações de maior abrangência como o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).

Mas há não muito tempos atrás, os investimentos em eletromobilidade no Brasil não tinham apoio nenhum e só o sonho e a persistência (quase que uma teimosia) justificavam os esforços que vinham da sociedade civil.

Quem se lembra desta época é a empresária Maria Beatriz Setti Braga, fundadora da Eletra Industrial.

A Eletra, com sede em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, é uma empresa 100% nacional que eletrifica veículos de grande porte. Atualmente, segundo a companhia, dos aproximadamente 540 ônibus elétricos urbanos que circulam no Brasil, em torno de 80% possuem tecnologia da empresa.

Contando o período anterior à constituição formal da Eletra, os investimentos da empresária e família em ônibus elétricos já superam os 30 anos, isso sem considerar a operação dos trólebus (ônibus conectados à rede aérea, do Corredor ABD).

No início da jornada, a Eletra basicamente servia a própria casa. Os poucos ônibus elétricos puros e híbridos eram colocados para circular na empresa Metra, antiga operadora do Corredor ABD (entre as zonas Sul e Leste da cidade de São Paulo ando por municípios do ABC), e em algumas linhas comuns das antigas empresas Auto Viação ABC (metropolitana) e SBCTrans (municipal do transporte de São Bernardo do Campo). Todas estas operações de transportes de ageiros eram do mesmo grupo empresarial da Eletra.

“A gente acreditava muito que o dia ia chegar e que poderíamos fazer as coisas mais modernas.. Hoje a gente tem baterias que evoluíram. Naquele tempo, usávamos baterias de ferro. As baterias foram modernizadas, mais adequadas – relembra Beatriz Setti Braga, em conversa com a aliança jornalística Diário do Transporte/Podcast do Transporte e OTM, realizada na última quarta-feira, 07 de agosto de 2024, em um dos dias da Lat.Bus, que ocorreu na capital paulista entre 06 e 08 de agosto de 2024. O evento, feito em conjunto com o Seminário Nacional da NTU (Associação Brasileira das Empresas de Transportes Urbanos), é considerado o maior encontro de mobilidade da América Latina.

Segundo a empresária, há 30 anos, os financiamentos eram zero.

“Financiamento nunca tivemos naquela época. Foi mesmo acreditar em algo ainda ia chegar, mas que na época, não se tinha qualquer garantia se ia acontecer mesmo ou quando ia acontecer – diz.

O Corredor ABD sempre foi o palco de experiências para novos modelos de veículos e desenvolvimentos que traziam soluções de eletromobilidade criadas para a realidade dos transportes coletivos no Brasil. A família Setti Braga sempre foi operadora de ônibus, então, sabe como os serviços são prestados no país, tendo noção das dificuldades, necessidades e oportunidades.

A Eletra foi inaugurada oficialmente no dia 22 de agosto de 2000 e começou a funcionar dentro de uma das garagens de ônibus do grupo.

Mas, antes mesmo desta constituição formal da marca, Beatriz Setti Braga e a família já colocavam para circular ônibus elétricos e híbridos com desenvolvimento próprio.

primeiro ônibus articulado híbrido do Brasil

O primeiro ônibus articulado híbrido do Brasil (que possui um motor a diesel e outro elétrico) foi desenvolvido pelo grupo entre 1997 e 1999. O veículo, na época de chassi Volvo e carroceria Marcopolo Viale, começou a operar pela Metra, no Corredor ABD, no segundo semestre de 1999. Anos depois, foram desenvolvidos outros híbridos que rodaram pela Viação ABC e SBCTrans. O primeiro ônibus circulou por mais de 20 anos no Corredor ABD, parando as operações comercias em 2018 por causa da exigência de idade máxima do contrato de prestação de serviços, mas tendo ainda condições de rodar por mais tempo.

Hoje ainda falta muito para o Brasil alcançar uma frota significativa de veículos elétricos com a infraestrutura necessária, tanto de eletropostos como nas redes mesmo de distribuição das cidades.

Mas em relação a esta época em que pouquíssimos empresários investiam, o avanço não pode ser desprezado.

Atualmente, grandes empresas multinacionais da Europa e Ásia vendem ônibus elétricos importados ou montados no Brasil porque o momento para isso começa ser interessante.

Mas na época a que Beatriz Setti Braga se refere, o início, investir na eletrificação de veículos comerciais era gastar dinheiro sem ter retorno.

O papel da Eletra foi fundamental para que o Brasil chegasse ao atual momento em que se discute de forma mais concreta a eletromoblidade, com resultados reais, mesmo com a necessidade de se avançar mais.

Beatriz Setti Braga e a família assumiram não só investimentos sem retorno inicial e até prejuízos, mas encararam algo maior ainda: o risco do erro, da exposição da imagem.

No Brasil, quem acerta é esquecido, mas quem erra, vira assunto.

Foi justamente isso que Beatriz decidiu encarar, algo que muitos gigantes internacionais que estão desembarcando agora no Brasil seus produtos não estiveram dispostos a fazer.

Assim como os ônibus do início da Eletra abriram caminho para uma nova geração de veículos, também surgiu uma nova geração de empreendedores.

Está à frente da Eletra agora, como presidente da empresa, Milena Braga Romano, filha de Beatriz.

Para a empresária, apesar de ainda serem necessários vários avanços, a eletromobilidade é o chamado caminho sem volta e até os países que ganham muito dinheiro com o petróleo estão investindo em tecnologia, parques fabris e estudos para veículos elétricos.

“Estive na Arábia Saudita, Dubai, Doha, Riad, em grandes produtores de Petróleo. Todos estão neste mesmo movimento dos veículos elétricos” – disse.

Beatriz Setti Braga é uma confessa apaixonada por trólebus, que são os ônibus elétricos que operam conectados a redes aéreas de fiação. Estes veículos se desenvolveram com o tempo e estão mais modernos.

O Corredor ABD vai receber entre este ano de 2024 e 2025 mais 10 trólebus zero quilômetro de 21,5 metros de comprimento cada.

Para Beatriz, o foco agora deve ser muito além do tipo ônibus, mas a forma de tração.

Um dos exemplos disso é o E-Trol, um ônibus que opera conectado à rede aérea de fios, mas que pode também circular de forma independente, apenas com energia armazenada nas baterias.

O veículo pode ser até 30% mais barato que um 100% elétrico do mesmo porte e, pelo fato de as baterias serem menos exigidas todo o tempo, a duração pode ser 30% maior. O menor custo de aquisição, se explica, em parte porque estes ônibus dependem de um banco de baterias reduzido.

As baterias estão entre os componentes mais caros de um veículo elétrico. Assim, quanto menos baterias, menor será o preço de aquisição.

Outra vantagem é que este ônibus carrega enquanto circula conectado à rede aérea, o que praticamente elimina a necessidade de grandes estruturas de recarga em terminais e garagens.

Uma frota de 92 veículos deste tipo vai circular no BRT-ABC, um sistema de corredores que, em 17,3 km, vai ligar as cidades de São Bernardo do Campo, Santo André e São Caetano do Sul à capital paulista até os terminais Tamanduateí e Sacomã, na zona Sudeste.

A inauguração é prevista entre 2025 e 2026.

Reaproveitar ônibus a diesel que estão quase chegando ao fim da vida útil e dobrar este tempo de operação, transformando este veículo em elétrico, é outro exemplo de atuação da Eletra.

Primeiro ônibus a diesel da Metra convertido em trólebus, em 2011

Primeiro ônibus articulado híbrido do Brasil

É o chamado retrofit ecológico. Entre 2011 e 2012, a Eletra converteu seis ônibus articulados Volvo com carroceria Busscar em trólebus e, neste ano de 2024, faz a mesma transformação em dez ônibus articulados Mercedes-Benz com carroceria Caio.

A diretora-executiva da Eletra Industrial, Ieda de Oliveira, que está com Beatriz Setti Braga desde os primórdios da empresa, explicou em entrevista ao Diário do Transporte que o retrofit ecológico (para trólebus, elétrico com bateria ou E-Trol) é 30% mais barato que comprar um ônibus novo e, depois de desenvolver o projeto, é possível transformar o ônibus em uma ou duas semanas.

Relembre:

/2024/07/10/entrevista-em-video-transformar-onibus-e-caminhao-a-diesel-em-eletrico-retrofit-gera-economia-de-30-e-trol-tambem-e-30-mais-barato-e-baterias-duram-ate-40-mais/

Entre as vantagens ambientais é eliminar completamente os impactos do envelhecimento do ônibus, que não vai poluir em outro lugar, caso fosse vendido, ou não virará ferro velho se fosse encostado.

Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes

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